PÁSSARO NA ETERNIDADE

Minha avó costumava dizer ditados populares e ria sozinha com eles. Ela contava estrelas no céu, vibrava e batia palmas quando a vilã da novela tinha o que merecia.

Lembro-me muito bem que ela comia de um tudo e nada acontecia. Nunca sofreu do estômago, depressão, estresse, sempre me ensinou que rancor não fazia bem pro coração e que perdoar era preciso para sobreviver.

"Incomodada ficava a sua avó". Mas, não ficava mesmo! A pessoa mais doce e suave que já conheci, estava sempre de bom humor, serena e embora tenha cursado somente até a quarta série primária, esbanjava português.

Na rua, era reconhecida por todos do bairro, acenava a cada passo, como uma miss Universo a deslizar pelo palco. Beleza não lhe faltava. Alguns diriam: que genética boa! Não era só isso. Era um ar puro e um brilho que lhe conferia todo o seu diferencial.

Dizem que pareço muito com ela, mas confesso que discordo, embora seja uma honra impagável.

Ela não se preocupava muito, tinha mais fé. Ela dedicava quase todo seu tempo às pessoas e fazia o sinal da cruz nos meus machucados. Como eu poderia ousar ser metade do que ela é?

Se eu fechasse os olhos poderia imaginar sobre ela um céu de cores. E ela? Um pássaro a distribuir paz e um pouco de sabedoria por aí, confiante e pronto para alçar vôos cada vez mais altos.
Iracema. Eu nunca fui como ela e não  conheço um ser humano sequer parecido. Talvez um dia eu tenha netos e quem sabe eles me vejam como eu a vejo, me admirem como eu a admiro.
Iracema era livre. De tristezas, energia ruim, fofocas, inveja, avareza, ostentação. Talvez fosse isso que a fizesse voar tão alto, tão leve e tão bonito.

Até hoje posso vê-la a voar pertinho de mim sem pedir licença, iluminando meu caminho como um anjo, com asas e tudo. Meu anjo. Meu pássaro na eternidade.

Clarissa Lima

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