A COLHEITA
Uma vez
ouvi em uma conversa de ônibus que o Fábio era um homem de sorte porque deixou
a Gabi, aparentemente alguém que fazia mal a ele, e começou um relacionamento
com a Carla, que era uma mulher ‘direita’ que ele havia conhecido recentemente.
Ao mesmo tempo em que me perguntei o que seria uma mulher direita, senti um certo
entusiasmo por alguém ter sido capaz de sair da zona de conforto e ter corrido
atrás de uma segunda chance para ser feliz.
Não conheci
Fábio, Gabi nem Carla, mas espero de coração que todos estejam satisfeitos com
suas escolhas e estejam fazendo o possível para tornarem suas vidas agradáveis,
fugindo do que é conveniente.
Fazer o que
é conveniente não é necessariamente estar infeliz, mas é assinar um baita
atestado de vida mais ou menos. É como responder ‘é, bem’ quando te perguntam
como você está, é estar acompanhada por não conseguir suportar estar só.
Não que
tudo precise estar no auge o tempo todo, mas boto a maior fé em um movimento
contra a monotonia e inércia que venha para impulsionar mudanças em nossos
comportamentos. Ainda que haja diferentes maneiras de ser feliz, para mim há
algo muito errado em nunca ter tido brilho nos olhos.
Além disso,
precisamos nos preocupar o tempo todo não só com o que estamos recebendo, mas
também com o que estamos sendo para o outro. Ao explorar o melhor em nós,
estimulamos o melhor no outro de modo que haja recíproca. Quando alcançamos um
nível de satisfação em nossas relações, alimentamos a superação de expectativas
sobre nós mesmos, nos tornando diferenciais para nós e na vida dos outros.
Sem julgar
os momentos de cada um, mas ainda vejo muito egoísmo e muita inveja entre
pessoas que poderiam se ajudar muito mais e brilhar juntas, mas que, ao invés
disso, promovem uma competição de egos entre si e simplesmente não se tornam capazes
de evoluir em suas vidas. Ou seja, não são felizes e também não admitem a idéia
de o outro ser.
Não somos
super heróis de ninguém, mas somos os principais responsáveis pelas mudanças
reais que ocorrem em nossas vidas. E isso inclui o básico: viver.
Viver
implica em perdurar, persistir, desfrutar de momentos, conservar-se, ter vida e
tudo isso demanda dinamismo. Ter vida é acender uma luz em cima de si e
inspirar os outros a acenderem as suas, é estampar um sorriso no rosto e
contagiar, é passear de mãos dadas consigo mesmo e estar feliz por ser o que se
é. É esgotar as possibilidades, usufruir de novas chances para fazer ser
melhor, cultivar um lindo pomar, regando-o com amor, na certeza de que virão excelentes
frutos, sabendo que, na pior das hipóteses, sempre poderemos procurar um solo mais
fértil para fazer um novo plantio de sementes mais selecionadas e recomeçar a
regar de forma diferenciada.
Que o pomar
de Fábio e Carla ainda frutifique bastante e os alimente por toda a sua
existência.
Que Gabi
encontre sua terra e selecione boas sementes para plantar em seu pomar. Que
alguém a ensine a melhor maneira de regá-lo para otimizar sua colheita.
Que todos nós
sejamos abençoados com a dádiva de encontrar o que em nós frutifica e nos
engrandece, e que tenhamos a sabedoria de fazer multiplicar e repartir para
ajudar os outros a encontrarem em si a vontade de fazer de de novo e melhor, a
superação, o grito da chegada, o frio na barriga, o abraço que aquece... Quem
sabe assim e somente assim possamos descobrir nossa singular alegria de viver.
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