Viagem no trem

Eu gosto mesmo é da estação de trem. Na fila do ticket eu observo as pessoas. Alguns com olheiras entregando que passaram uma noite difícil, outros batendo o pé demonstrando impaciência, certamente atrasados para pegar o próximo trem pra algum lugar. Observo algumas mulheres muito bem maquiadas, bem vestidas, com saltos enormes. Vejo-me há não muito tempo atrás, quando eu dedicava mais tempo para a maquiagem, tinha mais opções de vestimenta por causa do clima. Eu já tive que mudar tanta coisa que hoje eu já não busco tantas opções. E já acho que tenho demais. No trem sempre conto quantas pessoas estão no celular. Geralmente 90%. Às vezes quase 100%. Fico feliz quando vejo alguém mais novo lendo um livro. De papel. Penso que deveria ler mais. Mas o que eu gosto mesmo é da paisagem. Gosto dos campos verdinhos, vários pedaços de nada onde eu adoraria passar grande parte dos meus tempos livres. Sozinha, com o Leo, trazer uns amigos, fazer um churrasco... Ah... Meus amigos... Penso neles todos os dias. Falo com alguns quase todos os dias. Quero saber se já melhoraram da gripe, se aquela ideia foi pra frente, se ainda têm os mesmos planos, se as crianças aprenderam algo novo, se choram ou se sorriem e o porquê. Quando chego na minha estação, saio do trem e, todos os dias, inconscientemente, sinto uma vontade de me desejar um bom dia. E para todas as pessoas que estavam ali comigo também, dividindo a viagem, as paisagens, o espaço, o sono, o jornal do trem, os sonhos, alguns sorrisos e a esperança de receber, quem sabe, uma notícia boa. Só uma. Só hoje. Me pergunto se essas pessoas se despediram de alguém que amavam quando saíram de casa. Penso se existe algo que eu queira fazer se por alguma razão eu não sobreviver a aquele dia. Nessas horas sempre lembro de dizer que amo minha mãe, lembro que disse que amava meu marido quando saí de casa. De repente saio dos meus devaneios e fico em Paz, agradecendo pela coisa mais importante que eu tenho: a gratidão no peito e a capacidade de observar a valorizar as pequenas grandes coisas. Clarissa Lima

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Não é só mais um dia dos pais...

Há 29 anos você integra o rol das mulheres fortes que não possuem um companheiro para criarem seus filhos e o fazem com a ajuda dos avós, de amigos ou muitas vezes de ninguém. Na época de escola, todos os anos me perguntava porque é que eu não podia homenagear minha mãe no dia dos pais e hoje me dou conta de que outras crianças também não tinham pais presentes e que algumas sequer sabiam quem eram os seus. Nunca me responderam porque eu tinha que homenagear uma figura masculina que teoricamente deveria ser importante para mim (ou ao menos se fazer importante), mas no meu coração e nos meus desenhos não havia tristeza, ausência, raiva, dúvida . Tudo o que sentia era que eu queria mais uma vez te dizer o quanto você era especial. Meus desenhos tinham sempre você e vovó, minha família que me amava e me respeitava. Isso sempre foi mais do que suficiente. E acho que venho expressando esse amor com sucesso desde que eu aprendi a falar    (ou seja, beeem cedo rsrs) e ente
Leia mais

❤️de hoje

E se hoje fosse seu último dia de vida? Com quem gostaria de estar? Onde? Fazendo o que? Você se arrependeria de algo que não fez? O objetivo dessas perguntas não é cultivar ansiedade nem tristeza. As respostas que damos para elas podem ser reveladoras se não paramos pra pensar na nossa vida com uma certa frequência para revermos nossas atitudes perante às nossas prioridades em relação a coisas e, principalmente, pessoas. Que comecemos a fazer escolhas para nos orgulharmos de nós, e percebermos o que ou quem está sendo negligenciado na nossa vida de forma injusta, por uma inversão de valores. O conceito de viver como se não houvesse amanhã pode ser visto como uma apologia à falta de planejamento ou de preparação para o futuro. Entretanto pode ser também apenas uma forma de constantemente revermos nossas ações e estarmos cientes de que estamos fazendo o que está ao nosso alcance para vivermos nossa melhor vida hoje, dentro do que é possível. Não colheremos flores todos os di
Leia mais

Mais um dia de outono🍂

Ontem eu acordei com o sol invadindo o quarto. Acabou o horário de verão e eu acordei com mais disposição que o normal. Era pra ser só uma ida ao mercado, que virou uma caminhada rápida e virou exercício do dia... O dia começou com sol, ficou chuvoso e logo o sol saiu de novo. De alguma maneira eu sabia que eu tinha que estar ali, recarregando minhas baterias, do jeito que eu mais gosto, cercada de natureza e dos tons terrosos do Outono. Hoje foi só segunda, mas parece que eu já vivi essa semana umas 2 vezes de tanto que já aconteceu. Hoje eu não queria escrever, escrevi 3 textos. E comecei o quarto. A criatividade e o branco de ideias. A raiva e a calmaria. A insegurança e o excesso de confiança. A dor e o prazer. Tudo passa. Menos a fé de que sempre virão dias melhores. A vida surpreende em seus ciclos. Clarissa Lima
Leia mais