Dia 365


Sinto-me como se houvesse completado meu primeiro ciclo e “nascido” de novo.
Aprender a reconstruir a vida em um lugar novo custa caro em vários aspectos, principalmente mentalmente.

Optei por ainda não ter um carro, faço tudo de trem, há um ano vou ao mercado à pé e trago tudo na mão em sacolas que geralmente eu levo de casa (preciso mudar esse geralmente para sempre) e adapto as compras para caber numa geladeira bem menor, que aliás não é minha.

Há um ano comprei poucas coisas e vivo numa casa alugada mobiliada onde a maior parte dos móveis e eletrodomésticos não me pertence.

Usei o plano de saúde apenas 2 vezes porque achei mais burocrático do que simplesmente usar o sistema público.

Tiro férias de 5 dias, 2 dias, faço viagens curtas com mais frequência e acho que aproveito bem o tempo.

Já recebi visitas de 8 amigos e familiares que me deixaram muito feliz.

Pela primeira vez na vida, moro em uma casa sem ventilador e ar condicionado e só senti falta dele durante 1 noite durante os últimos 365 dias.

Nunca conheci tantos lugares novos num período de 12 meses e nunca aprendi tanto sobre pessoas que vivem realidades totalmente diferentes da minha.

Minha melhor amiga por aqui é uma francesa e coincidentemente ou não continuo tentando aprender/aprimorar mais um idioma (tenho fé!).

Não tenho mais medo de andar no transporte público e na rua usando o celular, mas ainda acho estranho quando o trem está cheio e as pessoas não tiram voluntariamente as mochilas dos bancos e esperam que os outros peçam pra sentar rsrs (momento crítico).

Eu ainda ando com a minha bolsa bem pertinho de mim e ainda presto atenção em tudo ao meu redor com medo de oportunistas/malucos/pessoas de má índole. Não sei se vou perder esse hábito nunca. Grata, Rio de Janeiro por me tornar uma mulher sempre alerta!

Todos os dias eu aprendo uma palavra nova que nunca precisei usar antes e eu uso meu dicionário do celular várias vezes ao dia.

Fiz um trabalho voluntário revitalizando jardins de um hospital público e aprendi sobre jardinagem. Hoje tenho minhas próprias plantinhas tímidas que nasceram de sementinhas e já completam seus quase 60 dias de vida! 

Sinto que me tornei uma pessoa mais tranquila num geral, mais discreta e tento ao máximo espelhar o que posso para me adaptar à cultura de uma forma que, claro, não deixe minha essência de lado e ainda reparo todos os dias nas coisas que me fizeram amar meu novo lar.

Amo a cultura da confiança, em que você resolve algumas coisas sérias sem apresentar um documento sequer.

Falta um pedaço? Claro. E uma fatia bem grande. Mas me sinto bem preenchida e a cada dia encontro uma maneira de repor o que faz falta, sabendo que algumas coisas não tem reposição e aceitando que fazem parte do pacote de não se poder ter tudo. Troco cada insegurança por um aprendizado, um plano, um sonho.

Nunca tive tantos deles, tantas possibilidades e tão pouco medo.
Não tenho receio de mudar, de tentar de novo nem de que algo não dê certo. Tenho alimentado a crença de que sou competente para resolver meus pepinos, aceitar que algumas coisas não dependem de mim e reconhecer quando tá puxado e que preciso de ajuda.

Obrigada pela sua amizade, sua torcida e seu carinho até aqui.

Continua comigo pelos próximos 365? ❤️

Clarissa Lima

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