MULHERES versus MULHERES?

Outro dia estava andando no shopping com pressa, mas não pude deixar de prestar atenção em um rapaz que falava, ou melhor, gritava ao telefone com o que parecia ser uma namorada, companheira ao algo do tipo.

Ele repetia berrando, em looping: "Você me fez sair da minha aula! Agora você vai descer do ônibus e vai vir aqui agora! Você vai descer agora! Anda! Tô esperando você aqui agora! Se você não aparecer aqui agora vou te enfiar a porrada, sua retardada! Eu não quero mais nada com você! Vem aqui agora ou eu te enfio a porrada quando te encontrar!".

Isso durou uns 5 minutos de caminhada...

Eu passei do lado dele, olhei bem pra cara do sujeito num movimento quase que inconsciente de apoiar a amiga que eu nem conhecia, ameaçada de levar porrada. Fui encarada bravamente pela criatura e senti por um segundo que podia até sobrar pra mim. Ali. No meio do shopping.

Agora vocês observem... A que ponto chegamos!

Isso acontece todos os dias, várias vezes ao dia, e na maioria das vezes infelizmente não fica só na ameaça.

Em paralelo, não pude deixar de pensar que, ainda com toda essa opressão e violência masculina, com todo o sofrimento psicológico seguido de depressões e frustrações por não atingir um padrão de corpo, de cabelo, de roupa, de vida, de criação de filhos, ao invés de apoiarmos umas às outras, acabamos reforçando esses padrões e julgando as colegas que estão fora dele.

É, "manas"! Não é papo feminazi. Vamos cair na realidade.

Está feia essa falta de empatia entre nós, essa disputa por homem, esse pré-julgamento de mulheres que nem conhecemos, mas que incomodam só porque elas conseguem coisas que não conseguimos, essa reprodução de preconceitos antigos e machistas...

Vamos nos aplaudir mais. Nós só queremos ganhar o direito de sermos iguais e não melhores do que ninguém. Vivemos pedindo respeito dos homens na rua. É abominável ouvir as mesmas cantadas desrespeitosas há 27 anos. Acho que eu as ouço desde o útero.

Pedimos o mínimo de cordialidade dos homens (com toda razão) e quanto a praticamos entre nós?

Sinto-me pouco protegida pelas mulheres. Muitas que se incomodam com a falta de noção masculina e pedem direitos, olham com desdém para as minhas celulites, para a minha barriga de fora, para o meu cabelo crespo natural, agridem outras mulheres que nem conhecem quando descobrem traições do marido...

Ué...

Eu costumo dizer que nos nossos piores momentos é que descobrimos quem são nossos amigos. E foi assim com uma colega que foi estuprada. Apareceram tantas e tantas pessoas, dentre elas, MULHERES, buscando desculpas e contextos que poderiam ter evitado a situação enquanto simplesmente um "estou por aqui se precisar conversar" talvez fosse mais do que suficiente. Acho que desse último ela deve ter ouvido apenas uns três.

O mesmo acontece com as mamães adolescentes e com QUALQUER mulher que ouse desafiar o "padrão".

Queridas, já estamos em 2017 e TEORICAMENTE:
Não precisamos mais conquistar o direito de usar a roupa que quisermos. Já o fizeram por nós.
Não precisamos mais brigar para poder trabalhar no emprego que bem entendermos. Já o fizeram por nós.
Não precisamos mais que escrevam leis contra a violência. Já o fizeram por nós.

Com toda essa pseudoliberdade que nos brindaram, vamos usufruir de nosso preciosíssimo tempo que seria maravilhosamente gasto em prol de transformar esse TEORICAMENTE em ABSOLUTAMENTE.

Precisamos de união e não de julgamento.
Precisamos ser capazes de olhar uma outra mulher bonita e feliz e admirá-la com orgulho.
Precisamos aprender umas com as outras e nos proteger quando preciso.
Precisamos nos ajudar a criar homens e não monstros.

Não há espaço para inveja nem competições sem sentido, gatas. Só para evolução. E quem não aprender na marra, está escolhendo ficar pra trás. É como não caber numa calça jeans. Triste e solitário...

E você, gorilão da bola azul, pobre macho alfa que perdeu a aula da faculdade, nem direito à cela especial você tem. Pense nisso antes de ameaçar ou agredir outra mulher.

HOMENS, continuem sendo HOMENS e ensinem os monstros a se tornarem como vocês. Precisamos de ajuda. Nos ajudem a interromper esse ciclo de desrespeito e objetificação.

Mulheres, se amem mais. Uma vela não se apaga por acender outras.

Em dias de TEORICAMENTE, torço para que a sorte nos acompanhe e, para quem acredita em Deus, que ande com Ele também.

Em um futuro de ABSOLUTAMENTE, eu tenho fé que ameaças não passarão.

Clarissa Lima




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