PEQUENOS REIS LEÕES

Ontem estive em um orfanato em Pedra de Guaratiba, chamado "Vivendas da Fé" e, como sempre que faço essas visitas, o bem que as crianças me fazem é infinitamente maior que a minha doação financeira e emocional durante as poucas horas que dedico a comprar as doações e a ficar com as crianças no dia da entrega.

Hoje quero simplesmente agradecer.

Queria começar falando de uma amiga, a Karine. Que pessoa maravilhosa, sensível e de bom coração. Eu agradeço imensamente pela oportunidade de ter visto a sua postagem no Facebook sobre as doações. Você despertou em mim a vontade de ajudá-la e de fazer parte deste seu projeto incrível de vida. Como não poderia ser diferente, sua família também incrível, tocou meu coração e me fez querer fazer parte disso mais vezes. Muito obrigada pela oportunidade que me ofereceu de conhecê-los.

E as crianças que conheci neste lugar? Incrível como a energia delas é positiva ainda que passem pelas circunstâncias pelas quais a vida as levou. Cada uma ali tem uma história especial e uma razão para terem sido levadas para a casa. Todos foram encaminhados judicialmente a aquela instituição, seja por maus tratos, morte dos parentes, abandono, etc.

Ainda que existam razões que justificam que elas sejam crianças tristes e rebeldes, confesso que notei um desvio do padrão. 

O local, extremamente acolhedor, oferece a todos da casa a participação em cultos, em que as crianças podem ter acesso a uma religião e desde já terem a oportunidade de aprender bons valores.

Para essas crianças, que viveram mais histórias tristes em 5, 6 anos de vida do que eu aos 27, a religião torna-se um abrigo, um caminho do bem a ser trilhado na esperança de um futuro melhor, que depende de uma boa conduta, de esforço por parte deles e de muito amor a dar e a receber.

Amor é o que não falta naquele lar. A cada senhora que nos recepcionava, podíamos observar seus olhos cheios de lágrimas, revelando o amor pelos meninos, pela casa, pelo seu trabalho. Com as poucas que conversamos, descobrimos que faziam trabalho voluntário e percebíamos o amor saindo de cada palavra ao falar das ‘suas’ crianças e de como elas eram tratadas ali e agradecendo as doações.

Quanto amor e quanta gratidão naquele lugar. Contrariando todas as expectativas da maioria das pessoas em esperar um lugar cheio de marcas do passado, eu vi ali um lugar com brilho nos olhos para um futuro promissor.

É muito provável que estas crianças precisem batalhar muito mais do que talvez um filho meu ou seu. Ao questionar alguns sobre ir à escola,  eles diziam: “amanhã não tem aula”, “não estamos tendo aula, tia”. Isso era de cortar o meu coração, pois sei o quanto isso os limitaria de oportunidades no futuro, mas logo em seguida eu me espantava com o quão  inteligentes e espertos eles eram e pensava que eles iriam abrir os seus próprios caminhos e que teriam toda a ajuda espiritual para isso.

Voltemos ao amor presente na casa. Gabriel, um dos menores, cerca de 2 anos, pegou a capa de um dos DVDs que estava ali, do Rei Leão, e ficou repetindo “leão”, apontando pro famoso personagem do filme. Conversando com ele, perguntei quem eram os outros. Ele apontava um a um e repetia: irmão do leão, irmão do leão, irmão do leão. 

Nesse momento eu confesso que desisti de dizer a ele qual era o nome de cada personagem porque percebi ali algo muito maior. Ele era o leão e seus colegas todos irmãos e não havia nenhuma diferença entre eles. Somadas às outras demonstrações de carinho, foi o suficiente para que eu ficasse completamente encantada e tivesse a certeza de que aquele menino tinha grandes chances de se tornar um adulto de bem, um adulto humano e foi quando eu me dei conta de que na verdade o fato de eles estarem passando por esta circunstância poderia deixar sequelas, mas estas seriam diminuídas pelo amor que eles recebem diariamente e abrigam em seu coração. Família é quem cuida, quem cria e isso eles tinham de sobra naquele lar temporário.


Ao ir embora, fiz questão de me despedir de cada um com um abraço muito apertado e, vendo aqueles pequenos lindos leões, cheios de energia, eu não consegui sentir preocupação. Apenas desejei que estivessem sendo acolhidos por Deus para que Ele garantisse que sempre haveria a presença de pessoas maravilhosas os guiando, que os conduzisse por um caminho de  boa conduta e lhes oferecesse o melhor presente de todos: A fé de cada dia. A fé que constrói, que cria oportunidades e que abre caminhos de luz. 

Que esses pequenos leões se tornem Reis da própria vida, que tenham um propósito maravilhoso a se cumprir e que protejam todos os seus irmãos, parte da melhor família que eles poderiam ter.


Clarissa Lima







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